sexta-feira, 17 de abril de 2009

UM CÃO ANDALUZ / A IDADE DO OURO – 1928 – Dir. Luis Buñuel


Se coloco os dois primeiros filmes de Luis Buñuel juntos é porque, além de inaugurar o surrealismo nas telas, a diferença está basicamente em suas durações (“Um Cão Andaluz” é um curta e “Idade do Ouro” um longa), foram realizadas no mesmo ano, tiveram ambos a colaboração do pintor Salvador Dali e o impacto foi e é o mesmo.

O surrealismo tem as suas raízes na psicanálise, um campo que, à época, pouco depois das fundamentais descobertas de Freud, foi profícuo não apenas no entendimento da “alma humana”, mas também a criação estética, à vazão artística do inconsciente, ao irrequieto Luis Buñuel.

Os dois filmes retratam a liberdade, mas não à tese da liberdade, à sua defesa ou justificativa, mas à liberdade como ausência do superego e das racionalizações, a liberdade pura da criação de imagens vindas diretamente de pulsões vitais do sexo, da morte, do desejo, da vida enfim. Buñuel e Dali filmaram seus sonhos conforme lhes vinham, cuja originalidade nasceu de não se imporem quaisquer medidas de censura; realizaram, assim, obras únicas no cinema: impossível destacar qual das imagens, ou de seu fluxo onírico, atemporais quando não subvertendo o tempo, em ambos os filmes, mais são as mais marcantes; cada um pode guardar a sua, ou várias delas, mas certamente muitas se fixarão em nossa retina (como a própria retina atravessada por uma navalha em “Um Cão Andaluz”).

Também pela liberdade são os ferozes ataques à burguesia e à igreja. Homem de esquerda, Buñuel se rebela contra as repressões institucionais que violentam o humano e, se suas imagens que ridicularizam os valores burgueses e clericais podem nos chocar numa primeira visão, também nos colocam frente com nossa própria liberdade como uma contraposição às verdades que nos são impositas. Na essência do humano há o sexo, como nos ensinou Wilhelm Reich, e reprimindo este instinto básico nunca atingiremos a plenitude da vida; nos conduzirá, ao contrario, aos regimes totalitários e a infelicidade geral, coisa bastante adequada à exploração do capitalismo e aos dogmas da igreja. A favor da liberdade, contra a hipocrisia, eis Luis Buñuel nestes dois filmes; além disso, os fez com muito humor.

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