domingo, 26 de abril de 2009

OS IRMÃOS CARA DE PAU – 1980 – Dir.: John Landis


Musical extemporâneo, “Os Irmãos Cara de Pau”, é uma comedia divertidíssima, feito com atores talentosos, um cast de músicos de primeiríssima grandeza e dirigido pelo esquecido e subestimado John Landis. É o que se costumava a chamar de cult movie ou daqueles filmes que, após sua exibição sem maior sucesso, torna-se o objeto de culto permanente por muito seguidores. Além disso, fez moda com o chapéu, os termos e os óculos pretos dos Blues Brothers (homenageado no filme “Homens de Preto”).

Para quem gosta de musica americana, ou melhor, da soul e do blues, “Os Irmãos Cara de Pau” é uma maravilha pois desfilam pela tela alguns dos mais legendários cantores da musica negra, e todos em cenas pra lá de engraçadas. James Brown faz o Reverendo Clophus James cantando um gospel (profano?) numa igreja. Ray Charles faz o dono de uma loja de armas! Aretha Franklin é uma garçonete mulher de um dos músicos. Num certo momento vemos John Lee Hooker a entoar seu blues no meio da rua. Em pontas, temos além do próprio John Landis, os diretores Steven Spielberg e Frank Oz. E temos, finalmente, os Blues Brothers, uma banda que surgiu no programa de televisão Saturday Night Live, acompanhado pelo grande crooner, então no ostracismo, Cab Calloway.

Já aos que gostam de cinema, temos, em primeiro lugar, o ator John Belushi. Grande comediante, teve infelizmente vida curta, morreu em 1982, mas é ele, junto com Dan Aykroyd, seu irmão no filme, quem conduzem a saga anárquica para arrumarem 5.000 dólares e salvar o orfanato onde foram criados. E temos ainda o diretor John Landis que consumiu 27 milhões de dólares para a realização desta enorme aventura. É daqueles filmes em que vemos cada centavo gasto, mas não com qualquer ostentação ou arrogância, muito pelo contrário; há um tal desapego, uma certa gratuidade nos exageros que nos apresenta e, por isso mesmo, nasce o seu encanto. Percebam as cenas quase surreais de perseguição; são centenas de carros destruídos e é exatamente pelos extremos de sua inverossimilhança onde reside a sua graça e o seu anti esquematismo. Fosse na mão de outro diretor, ainda mais nos atuais, possivelmente o faria com uma profusão de cortes frenéticos, mas o talento de John Landis prefere os enquadramentos de planos mais limpos em que as próprias seqüências naturais nos fazem rir. É uma comedia nonsense às antigas, sem a moderna escatologia.
O filme, o diretor e os Blues Brothers são ao mesmo tempo românticos, rebeldes, anárquicos, mas, sobretudo, tem a musica no sangue. Pela musica e a favor do orfanato, enfrentam toda a caretice das todas as instituições. Existe uma cena exemplar na qual os irmãos são perseguidos simultaneamente por músicos de country, pelos nazistas, pela policia e por uma amante. John Landis faz da paródia uma festa de homenagens aos filmes de perseguição, aos musicais, às comedias malucas e burlescas antigas e à nata da musica negra, tudo isso num mesmo e extraordinário filme.

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