Li numa revista que, quando chegou a São Paulo, o ator José Dumont, disposto a se aventurar pelo teatro, se viu desempregado e manteve duramente a esperança ouvindo “Here Comes The Sun” dos Beatles. No filme de João Batista de Andrade, acompanhamos a história do paraibano Dernivaldo José da Silva, poeta de cordel, rebelde e orgulhoso de sua condição, insubmisso extremado, buscando aquele mesmo lugar ao sol de José Dumont, almejando o respeito em meio ao preconceito de paulistas capitalistas a um retirante nordestino.
O filme, no entanto, é bem mais. Começa não com Dernivaldo José da Silva mas com Severino José da Silva, outro imigrante cearense que, numa entrega de premio tipo “Operário Padrão” (famoso naqueles anos de chumbo), após receber tal condecoração, saca de um facão e golpeia o presidente gringo da empresa. Seu rosto aparece em jornais e se torna um assunto na cidade. Corta para Dernivaldo, recitando seus cordéis no meio de um aglomerado de pessoas em qualquer rua do centro de São Paulo, até que chega um fiscal da prefeitura e, autoritário, expulsa Dernivaldo de seu ponto. Acontece que as pessoas passam a confundir Dernivaldo com Severino (ambos vividos por José Dumont) e, o que era difícil para Dernivaldo, conseguir emprego, se torna uma desconfiança das pessoas conhecidas ou não. Existe ecos de Hitchcock na trama, mas a forma é bem mais livre e moderna, não primitiva.
Um grupo de hippies aburguesados dançando ao som de “Let´s Spend the night together” dos Stones demonstra de que lado está João Batista de Andrade; corajoso, assume a ideologia sem torná-lo um entrave na realização de um cinema direto, sem frescura. E José Dumont revelou-se um dos grandes atores de sua geração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário