sexta-feira, 17 de abril de 2009

GRAN TORINO – 2009 Direção: Clint Eastwood


Clint Eastwood é o legitimo herdeiro do cinema clássico, o melhor dos realizadores contemporâneos nos EUA e, prova disso, é este “Gran Torino”.

Neste filme, assistimos a um Clint auto referente, por vezes irônico, outras carinhoso, mas sempre reflexivo e crítico. Em vários momentos, lembraremos as cenas já vistas em outros filmes; mas Clint não se limita a inventariar a sua filmografia: ele a transforma em elementos estruturais, sempre em favor da narrativa. Não só: Clint observa a transformação da sociedade, não mais do ponto de vista do cavaleiro solitário do oeste nem o do sujo justiceiro das cidades, mas pelo olhar de um velho veterano da Guerra da Coréia, Walt Kowalski, recém viúvo, ex funcionário da Ford, “o” norte americano que, no entanto, é, agora, o “mais um” entre outros, mesmo dentro de seu país.Por isso o velho Walt rabugento e algo amargo, interpretado pelo próprio Clint, age e resmunga com a mesma irritação preconceituosa de uma senhora chinesa, sua vizinha, encontram-se no mesmo mundo, junto com negros, latinos, americanos, jovens e velhos, mulheres e homens.

E o mundo, no filme, é um bairro de subúrbio na outrora próspera Detroit, símbolo maior do poderio automobilístico estadudinense. Já não é mais: estão agora juntos noutra realidade, onde velhos solitários e famílias inteiras convivem com gangues diversas, sobrevivendo no que sobrou do sonho americano. Mesmo dentro das próprias colônias subjaz a tensão e a violência, como nos é mostrado a certa altura do filme. Não à toa, o que liga o velho Walt ao passado e, como se verá, à vida, é um antigo Gran Torino modelo 1972.

Mas é ainda um filme de Clint Eastwood e, por isso, não conseguimos desgrudar os olhos da tela; é engraçado e dramático nos momentos certos, desenvolvendo com equilíbrio o cotidiano deste subúrbio; rimos com as tiradas mau humoradas de Walt, nos chocamos com a violência praticada contra a jovem chinesa (a talentosa Ahney Her) e nos comovemos com gradual aceitação do velho Walt à familia chinesa, a este novo mundo e à sua propria humanidade. Clint, como ator, faz o melhor papel de sua longa carreira; ele afirma ser seu último. Acima ou ao lado deste “Gran Torino”, talvez apenas “Os Imperdoáveis”. Não é pouca coisa.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei este filme, assim como todos os outros de Clint Eastwood. Excelente ator e excelente diretor. Sua sensibilidade para contar boas histórias, mostrar a complexidade de suas personagens, seus medos, suas fraquezas e qualidades é impressionante. Entretanto, ele consegue maior proeza ainda na finalização de suas histórias. Calma, não vou contar o final deste filme, mas lembrando de final, me veio a cabeça a última cena de Pontes de Madison, - me desculpe aqueles que cometeram a heresia de ainda não tê-lo assistido - quando a personagem de Meryl Streep encontra seu amor, vivido por Clint, que está indo embora e será sua última chance para ir ao seu encontro, porém, ela não vai.
    São histórias completamente diferentes, mas que nos causam os mesmos sentimentos, sendo a raiva, num primeiro momento, porque acabou assim? e depois, após certa reflexão, vem a paz, a calma, um arrepio na alma. Seus protagonistas nos mostram, surpreendentemente, a grandeza que todo ser humano pode alcançar. Belíssimo filme!

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