domingo, 26 de abril de 2009

SHINE A LIGHT – 2008 – Dir. Martin Scorsese


Não é o primeiro filme de Martin Scorsese de uma banda de rock. Em 1978 já havia realizado o notável “A Última Valsa”, o show de despedida do The Band que acompanhava Bob Dylan; Scorsese fez ainda recentemente um documentário do próprio Dylan e produziu outro em que homenageia o blues. Tampouco é a primeira incursão dos Stones no cinema. Tirando as participações de Mick Jagger e Keith Richards em alguns filmes, já foram filmados três documentários, todos de qualidade, por gente do calibre de Jean Luc Goddard (Sympathy for The Devil – 1968), os irmãos Maysles (Gimme Shelter-1970) e Hal Ashby (Let’s Spend Night Together – 1983). O que então faz este filme de diferente?

Sem comparar com os filmes protagonizados pelos Stones, o processo de filmagem é semelhante à “Última Valsa” na qual Scorsese procurou, na captura da imagens de um show, recursos de apuro cinematográfico onde a tecnologia e o abundante recurso da movimentação das varias câmeras, enquadramentos, cenografia e iluminação trouxessem ao máximo a sensação de estar dentro do palco, com o ponto de vista o mais privilegiado possível, não simplesmente o da platéia/espectador. Scorsese de fato cria essa proximidade absoluta com os Rolling Stones e realiza um processo na qual ele próprio não se ausenta; é participante ativo, apontando as sequencias que pretende filmar, a posição das câmeras, o teatro, a luzes, e até mesmo procurando saber do repertório para criar abordagens fílmicas de cada canção. É este processo da elaboração do show duplamente filmado, os Rolling Stones de um lado e Martin Scorsese de outro, a sua maior particularidade e que o distingue dos demais filmes dos Stones.

Além disso, pode-se dizer, Scorsese é fã dos Stones, não desses que fazem tietagem mitificadora, mas de quem conhece profundamente seus discos e sua importância cultural. Tanto que o repertório será inusitado a quem conhece apenas os sucessos dos Rolling Stones mas será um deleite aos fãs de longa data. É claro que não podiam ficar de fora “Jumpin' Jack Flash” que abre o show, “Tumbling Dice”, “Satisfaction”, “Sympathy For The Devil”, “Brown Sugar” e “Start Me Up”. Mas de resto, são contempladas canções que não figuram nos mega-shows que se acostumaram, preferindo o repertório da fase mais criativa do final dos anos 1960 e 1970, com curiosa ênfase nos discos “Exile in Main Street” de 1972 e “Some Girls” de 1978.
Há as participações previsíveis e dispensáveis: mais de Jack White (“Loving Cup”) e menos de Christina Aguilera (“Live With Me”). E como os Stones sempre costumam a homenagear os cantores de Blues, o filme traz o grande Buddy Guy em Champagne & Reefer. Mas são as apresentações dos Stones, eles próprios, com as novas rugas e a velha energia, a batida econômica e sóbria de Charlie Watts, os poderosos riffs de Keith Richards e o carisma do maior showman do rock Mick Jagger, aliados ao virtuosismo técnico de como Scorsese os retrata, ainda a alma do filme. Tem seus vários grandes momentos: a singela As Tears Go By (primeira canção composta por Jagger e Richards) que nunca fora cantada por Mick Jagger num show antes por eles terem vergonha!; “You Got The Silver” que era um folk, se tornou um blues arrastado e tenebroso na voz de Keith Richards; e a caipira “Faraway Eyes”, na melhor cena do filme, quando Mick e Keith, num dueto, juntam suas cabeças e se aproximam no mesmo microfone, esquecendo neste breve instante os milhões de dólares acumulados, a mesquinharia do poder, as rusgas e brigas do passado, cantando simplesmente como dois velhos amigos.

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