domingo, 10 de abril de 2011

CHÁ E SIMPATIA – 1956 – Dir: Vincent Minelli



Foi possível, graças à internet, rever esse belíssimo filme de Vincent Minelli, após quase trinta anos desde a primeira e única vez que o assisti, e cuja referência, pelo menos a que conhecia, era um texto do Glauber Rocha no seu livro “Século do Cinema”, relançado pela Cosac Naify. Ficou sempre, em minha memória, e plenamente confirmado, como um dos melhores melodramas, abordando um tema ainda hoje encarado com certo tabu no cinema: a masculinidade, no caso, aquela dos estadudinenses nos anos 50, a brutalidade dos vencedores, para os quais, qualquer manifestação de sensibilidade era intolerável, em especial entre os estudantes das universidades.

Trata-se de um flash-back do jovem estudante e aspirante a escritor Tom Lee (John Kerr) de quando instalado numa pensão do casal sem filhos, Laura (Deborah Kerr) e Bill (Leif Erickson). Ela, dona de casa, cuidando das flores do jardim; ele um professor de educação física, exaltando a força e o comportamento competitivo dos alunos. Tom Lee prefere a musica e a poesia e tem uma relação próxima a Laura, única que o compreende. Porém, Tom Lee é alvo de zombaria dos colegas e, já naquela época, vitima de bullyng e compelido, por todos, inclusive por seu pai e por Bill, às formas machistas de iniciação para afastar as duvidas de sua sexualidade.

O filme evolui no sofrimento contidos em gestos e olhares de Laura e Tom Lee, ela buscando protegê-lo, ele alimentando uma paixão platônica. A direção segura de Vincent Minelli, a beleza da fotografia e da musica não obscurecem a coragem de levar ao cinema a peça teatral de Robert Anderson. Filme sobre a ternura e a compreensão face à intolerância, apresenta-se de uma triste atualidade nestes tempos de bullyng nas escolas, racismo, homofobia, de feroz competitividade onde a manifestação dos sentimentos são tidos como ineficiência, onde a própria razão se mercantilizou.

Momentos únicos no filme e na vida, as cenas de Laura e Tom Lee, da aproximação, do carinho e, finalmente, do beijo, são a resposta das sensibilidade às repressões e violências da sociedade. Deborah Kerr nunca esteve tão linda; seu beijo resgata-nos a humanidade, seu beijo é encontro nunca mais esquecido, seu beijo nos desperta para o que somos.

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